TENET // Análise
- Pedro Mendonça Santos
- 21 de out. de 2020
- 4 min de leitura
Realizador // Christopher Nolan
Ano // 2020
Género // Acção, Sci-fi
Classificação // 8:10
"É o melhor filme de Christopher Nolan?
Não. E não precisa ser."

Três anos depois de ter lançado o seu último filme Dunkirk, Christopher Nolan volta às grandes salas com o seu filme mais recente TENET. Depois de várias semanas a ser adiado por motivos de saúde pública resultante da pandemia, a longa metragem estreou alternadamente em vários países que já permitiam ter as salas de cinema abertas.
TENET é um filme de espionagem internacional onde o protagonista, desempenhado por John David Washington, é chamado a evitar uma terceira grande guerra que - segundo o trailer - seria pior que um holocausto nuclear.
Começando por dizer que Christopher Nolan é o meu realizador favorito e isso faz-me ficar com grandes expectativas sobre qualquer das suas obras. Acredito que o pináculo da carreira de um diretor seja quando uma grande parte dos espectadores não necessita saber muito mais sobre um filme para além de que foi realizado por determinado artista para se mostrar interessada. Christopher Nolan consegue como muito poucos arrastar milhares de fãs de cinema para as grandes salas e, nesta altura em particular, este foi o filme perfeito para que a audiência pudesse finalmente voltar a apreciar a sétima arte na sua verdadeira amplitude.
Felizmente tive oportunidade de ver este filme três vezes - faço sempre questão de aproveitar o máximo dos filmes do Nolan no cinema - em IMAX por duas vezes e a terceira numa sala comum. No entanto, durante o decorrer desta review vou tentar me focar nas impressões que tive após a primeira visualização, porque acredito que é uma avaliação mais genuína e que se aproxima mais de uma experiência que um espectador comum eventualmente teve.

Todos sabem - ou pelo menos os que são mais atentos ao trabalho de Christopher Nolan - que todas as suas histórias são sempre abordadas de um ponto de vista único, seja pelas temáticas abordadas (gravidade e teoria da relatividade em "Interstellar"), seja pela maneira única de edição (duas narrativas em paralelo e invertidas em "Memento" ou três espaços temporais em "Dunkirk"), seja pelas ideias únicas (exploração de sonhos em "Inception") ou até por efeitos visuais práticos e a sua obsessão por querer todas as cenas filmadas no momento com recursos mínimos a green screen e CGI de modo a que os seus filmes envelheçam bem. Todos estes fatores jogam a seu favor e fazem com que a experiência cinematográfica seja única e extremamente imersiva; TENET não foge a esta regra.
"TENET é complicado - a vários níveis."
"Tenho a certeza que algo muito importante acabou de acontecer, mas não entendi bem o quê." Foi esta a minha reação durante algumas cenas.
Durante as duas horas e meia (nada entediantes) houveram momentos em que deu a sensação que a história estava a passar rapidamente e havia muito pouco tempo para digerir as informações. Nolan é sensível à "exposition" que é muitas vezes necessária para que o espectador não perca partes importantes do plot, no entanto, com uma temática manifestamente complexa (segunda lei da termodinâmica e reversão da entropia de um objeto), Nolan cai no erro de se colocar num buraco de longas exposições onde os personagens andam sem destino pelas ruas enquanto dá oportunidade de entender o que se passa.
E é aqui que creio que esteja o maior ponto fraco deste filme, o grande foco em plot e a falta de desenvolvimento dos personagens. À semelhança do que aconteceu em Dunkirk, TENET é focado maioritariamente num evento que poderá ou não acontecer e, ao mesmo tempo, não existe a intenção de explorar emocionalmente ou expandir o que conhecemos dos personagens, fazendo com que tudo que eventualmente lhes possa acontecer no decorrer não seja assim tão impactante. Tudo isto torna-se evidente quando o personagem de John David Washington é simplesmente conhecido como "The Protagonist".

Elizabeth Debicki é a surpresa pela positiva neste filme tendo uma atuação bastante admirável e provavelmente dando vida à única personagem que nos dá algum tipo de afinidade dramática durante toda a peça. A personagem de Elizabeth Debicki (Kat) vive diariamente controlada e chantageada pelo marido e antagonista desta história (Andrei Sator) representado pelo talentosíssimo Kenneth Branagh - um oligarca russo capaz de tanto dizer as frases mais filosoficamente interessantes quanto as deixas mais cliché de uma telenovela sul-americana. Nada contra Kenneth Branagh, mas não acredito que tenha sido a melhor escolha para aquele personagem - ou será que isto são problemas de um personagem subdesenvolvido?
"Se todos os filmes fossem maus a este nível, não existiam maus filmes."
TENET é um filme sensacional para quem gosta de um thriller cheio de ação. Está repleto de efeitos visuais práticos de perder a respiração (e a audição…). Com um cast de luxo e extremamente talentoso. Perfeito para voltar aos cinemas e, de preferência, para ser visto em IMAX.
É o melhor filme de Christopher Nolan? Não. E não precisa ser.
Christopher Nolan continua a ser o meu realizador favorito. Vi coisas no ecrã que nunca vi antes e, apesar de vários pontos fracos no guião, TENET continua a ser uma experiência sensacional no grande ecrã. Mesmo não entendendo tudo o que está a acontecer, seguimos a dica da cientista e basta tentar sentir em vez de tentar entender.
Como disse anteriormente, tive a oportunidade de ver várias vezes a longa metragem e, após conseguir juntar peças que antes estavam perdidas, consegui apreciar muito mais toda a dinâmica do mundo de TENET. Apesar de muitas vezes parecer que algo ficou pendente ou mal explicado, Nolan fez questão que tudo o que passava no ecrã fosse coerente e organizado.
Definitivamente não é o melhor filme de Nolan, mas só uma mente como a dele poderia criar uma obra tão genuína e original como esta. Se todos os filmes fossem maus a este nível, não existiam maus filmes. Indiscutivelmente estamos mal habituados com Mr. Nolan.
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